Não se trata de sorte

“As plataformas de fluxo de trabalho nos permitiram separar cada tarefa e enviá-las para quem puder realizá-la melhor (…), dando acesso a talentos situados em diferentes partes do mundo.”, Jerry Rao, empreendedor indiano do setor de Business Process Outsourcing (BPO), em depoimento à Thomas Friedman, autor do bestseller “O mundo é plano”, publicado em 2005.

Os avanços sociais e tecnológicos das décadas de 80 e 90, como a diminuição dos regimes totalitários, a popularização dos computadores pessoais, o advento do sistema operacional Windows e da internet, o consenso sobre os protocolos de comunicação e de integração, e a conexão do mundo via fibra ótica permitiram que pessoas e aplicativos de todo o mundo conversassem e se conectassem entre si, preconizando o surgimento das poderosas plataformas de gestão de fluxos de trabalho no começo deste século XXI.

Atualmente, mais de 20 anos após o advento de todos estes avanços revolucionários, um evento em escala mundial com diversos desdobramentos de âmbito pessoal e coletivo, a pandemia de COVID-19, está fazendo com que as plataformas de gestão de fluxos de trabalho, antes na pauta apenas das grandes corporações, estejam no foco das empresas de todos os tamanhos e áreas de atuação, provocando e acelerando diversas outras transformações.

Além da dor e o sofrimento pelas incontáveis e insubstituíveis vidas perdidas, a pandemia trouxe também profundos aprendizados sobre o trabalho remoto. Algo que era ocasional, de uma hora para outra se tornou o padrão, provando para as empresas que uma grande parcela das atividades podem ser executadas distante dos escritórios, praticamente de qualquer lugar que tenha um computador com acesso à internet.

O trabalho remoto por sua vez ajudou a “globalizar” as vagas de trabalho, permitindo com que empresas ampliassem a procura de profissionais para fora das suas regiões de atuação, intensificando o apagão de talentos, principalmente nos setores ligados à tecnologia da informação, e gerando profundas reflexões sobre a educação tradicional, e o papel das empresas neste processo.

Se as empresas, salvo raras exceções, se permitiam ficar em uma posição confortável de escolha de candidatos às vagas de emprego, hoje o cenário se inverteu, apontando para uma realidade totalmente diferente, onde os candidatos é que estão escolhendo as empresas que querem trabalhar. Contratar talentos ficou complexo, caro, e principalmente raro, exigindo que as empresas passem a atuar mais ativamente na formação da sua base de talentos se querem continuar crescendo sem impeditivos e de posse do controle da situação.

Não é por acaso que temos acompanhado diversas iniciativas sendo feitas na área da educação, incluindo, e não apenas, por diversas instituições financeiras, seja através de parcerias, aquisições, e programas de cooperação, algo que a médio e longo prazo trarão resultados positivos à todo o ecossistema, mas que podem e devem ser complementadas por outras iniciativas que visem a formação de talentos em curto prazo.

Vejam que já são mais de 2 décadas de evolução das plataformas de gestão de fluxos de trabalho, e, para elas não faz diferença se as tarefas serão executadas por 1 ou por N indivíduos trabalhando de maneira isolada ou em conjunto, centralizando ou distribuindo o conhecimento necessário para que as atividades sejam realizadas. Algumas tarefas vão exigir conhecimentos avançados de uma graduação na área, e outras poderão ser facilmente atendidas através de treinamentos especializados.

Adoção de modernas metodologias e plataformas de gestão de trabalho, fomento à educação tradicional, criação e capacitação de uma forte base de talentos, e parceria com consultorias especializadas de RH para encontrar profissionais com conhecimentos particulares são todas iniciativas complementares que quando executadas em conjunto estabelecem o caminho para o desenvolvimento de um programa de talentos perene, flexível e abrangente, que não deixará que falte “combustível” antes mesmo da empresa “decolar”.

Como disse Louis Pasteur há muito tempo atrás, “A sorte favorece os mais bem preparados”.

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